segunda-feira, 8 de novembro de 2010

O encontro e o diálogo...

Esse é o primeiro "diálogo" entre a certeza e a dúvida... As palavras passam a dialogar com os sentimentos e eu humildemente me coloco a contemplar as idéias de Ferreira Gullar, a sua ousadia de teorizar o sentimento "mais doido" da humanidade...

Houve uma época em que eu (Gullar) pensava que as pessoas deviam ter um gatilho na garganta: quando pronunciasse — eu te amo —, mentindo, o gatilho disparava e elas explodiam. Era uma defesa intolerante contra os levianos e que refletia sem dúvida uma enorme insegurança de seu inventor. Insegurança e inexperiência. Com o passar dos anos a idéia foi abandonada, a vida revelou-me sua complexidade, suas nuanças. Aprendi que não é tão fácil dizer eu te amo sem pelo menos achar que ama e, quando a pessoa mente, a outra percebe, e se não percebe é porque não quer perceber, isto é: quer acreditar na mentira. Claro, tem gente que quer ouvir essa expressão mesmo sabendo que é mentira. O mentiroso, nesses casos, não merece punição alguma... E sim, faz total sentido... Mas eu penso que prefiro não ouvir mentiras... Só penso, certeza ainda não tenho...

Por aí já se vê como esse negócio de amor é complicado e de contornos imprecisos. Pode-se dizer, no entanto, que o amor é um sentimento radical, igual a mim ressalto, eu sou radical pra caramba, e isso pode ser constatado, basta observar minha insistência em usar reticências...Mania de infinitude — falo do amor-paixão — e é isso que aumenta a complicação, com rima e tudo. Como pode uma coisa ambígua e duvidosa ganhar a fúria das tempestades? A resposta pode ser comparada a minha mania por reticências(...) Mas essa é a natureza do amor, comparável à do vento: fluido e arrasador. É como o vento, também às vezes doce, brando, claro, bailando alegre em torno de seu oculto núcleo de fogo.

O amor é, portanto, na sua origem, liberação e aventura. Por definição, anti-burguês, base marxista e se não fosse, não estaria eu aqui dialogando sobre ele com o Gullar. O próprio da vida burguesa não é o amor, é o casamento, que é o amor institucionalizado, disciplinado, integrado na sociedade. O casamento é um contrato: duas pessoas se conhecem, se gostam, se sentem (a)traídas uma pela outra e decidem viver juntas. Entendo que algumas pessoas institucionalizam a relação contra seus próprios princípios, buscam fugir de algo que não compreendem, sentem medo e por isso buscam no casamento a estabilidade de uma vida "pacata", normal.  Isso poderia ser uma coisa simples, mas não é, pois há que se inserir na ordem social, definir direitos e deveres perante os homens e até perante Deus. Carimbado e abençoado,ou não, o novo casal inicia sua vida entre beijos e sorrisos. E risos e risinhos dos maledicentes (estou eu a imaginar e cá comigo, sinto ciúmes!!!! Choro!!!! Eles devem rir, suponho...). Por maior que tenha sido a paixão inicial, o impulso que os levou à pretoria ou ao altar (ou a ambos), a simples assinatura do contrato, concreto ou imaginário, já muda tudo. Com o casamento o amor sai do marginalismo, da atmosfera romântica que o envolvia, para entrar nos trilhos da institucionalidade. Torna-se grave. Agora é construir um lar, gerar filhos, criá-los, educá-los até que, adultos, abandonem a casa para fazer sua própria vida. Ou seja: se corre tudo bem, corre tudo mal. Mas, não radicalizemos, afinal haja radicais: há exceções — e dessas exceções vive a nossa irrenunciável esperança.

Conheço algumas mulheres e homens também que dizem: não há amor que resista ao tanque de lavar (ou à máquina, mesmo), ao espanador e ao bife com fritas. Possivelmente exagero, mas com razão, primeiro que aqui no Nordeste o bife com fritas nem é tão tradicional... Gullar, ouvia o vento rumorejar nas árvores do parque, à tarde incendiando as nuvens e imaginava quanta vida, quanta aventura estaria se desenrolando naquele momento nos bares, nos cafés, nos bairros distantes, Eu, imagino também e fico perguntando em que momento errei... Aventura sonhada, o amor louco, o sonho que arrebata e funda o paraíso na terra, era a minha teoria. Acontece o vulgar adultério - o assim chamado -, que é quase sempre decepcionante, condenado, amargo e que se transforma numa espécie de vingança contra a mediocridade da vida. É como uma droga que se toma para curar a ansiedade e reajustar-se ao status quo. Estou curada, então se diz — e volta ao bife com fritas...

Mas às vezes não é assim. Às vezes o sonho vem, baixa das nuvens em fogo e pousa aos teus pés um candelabro cintilante. Dura uma tarde? Uma semana? Um mês? Pode durar um ano, dois até, desde que as dificuldades sejam de proporção suficiente para manter vivo o desafio e não tão duras que acovardem os amantes. Me surpreende o fato de que qualquer coisa contrária a isso possa ser questionada, e para isso, o fundamental é saber que tudo vai acabar. O verdadeiro amor é suicida. O amor, para atingir a ignição máxima, a entrega total, deve estar condenado: a consciência da precariedade da relação possibilita mergulhar nela de corpo e alma, vivê-la enquanto morre e morrê-la enquanto vive (bravo, eu diria) como numa desvairada montanha-russa, até que, de repente, acaba. E é necessário que acabe como começou, de golpe, cortado rente na carne, entre soluços, querendo e não querendo que acabe, pois o espírito humano não comporta tanta realidade, como falou um poeta maior e eu aqui ressalto. E enxugados os olhos, a essa altura já em correntezas de lágrimas,  aberta a janela, lá estão as mesmas nuvens rolando lentas e sem barulho pelo céu deserto de anjos. O alívio se confunde com o vazio, e você agora prefere morrer.
A barra é pesada. Quem conheceu o delírio dificilmente se habitua à antiga banalidade.
Evaporado o fantasma, reaparece em sua banal realidade o guarda­roupa, a cômoda, a camisa usada na cadeira, os chinelos. E tudo impregnado da ausência do sonho, que é agora uma agulha escondida em cada objeto, e te fere, inesperadamente, quando abres a gaveta, liga o computador, o livro. E te fere não porque ali esteja o sonho ainda, mas exatamente porque já não está: esteve. Sais para o trabalho, que é preciso esquecer, afundar no dia-a-dia, na rotina do dia, tolerar o passar das horas, a conversa burra para não dizer excitante, as discussões propositais, implorando a atenção sua e do outro, a coca-cola zero, as notícias sobre a opção errada e descartada. Sim, a essa altura o sentimento está no patamar burguês, utilitarista de "OPÇÃO".

Edifícios, ruas, avenidas, lojas, cinema, shoppings, praças de alimentação, ônibus, carrocinhas de sorvete, água de coco e praia: o mundo é um incomensurável amontoado de inutilidades. E de repente o táxi que te leva, aliás me leva, por uma rua onde a memória do sonho paira como um perfume. Que fazer? Desviar-se dessas ruas, ocultar os objetos ou, pelo contrário, expor-se a tudo, sofrer tudo de uma vez e habituar­se? Mais dia menos dia toda a lembrança se apaga e te surpreendes gargalhando, a vida vibrando outra vez, nova, na garganta, sem culpa nem desculpa. E chegas a pensar: quantas manhãs como esta perdi burramente! O amor é uma doença como outra qualquer.E é verdade. Uma doença ou pelo menos uma anormalidade. Como pode acontecer que, subitamente, num mundo cheio de pessoas, alguém meta na cabeça que só existe fulano ou fulana, que é impossível viver sem essa pessoa? E reparando bem, tirando o sorriso que era lindo (observe a minha forma de enfatizar no tempo passado, ou seja, entenda como quizer!) o corpo não era, não é e não está lá essas coisas...Normal... Na cama... Sim deitei sobre seu peito e ainda ouço as batidas do seu coração, soaram como música para mim. Sexo? Não aconteceu, não na prática, confesso e ressalto... Havia a expectiva do transcendental, de minha parte, seria o encontro da teoria com a prática... Censurado, impossibilitado pela opção ralizada... Mas no papo um saco, e mentia, dizia tolices, e pensar que quase morro!!!!!... Não!! Estou eu a mentir agora... coisa feia e feia, estou a todo tempo sendo sincera e vou mentir aqui com que objetivo?! O papo confuso, contrário, contraditório, fascinante e isso me XXXXXX ...

A "tradução" é CATIVA...Viu!!!!!

Isso, escrevo e digo agora, comendo batatas fritas, só elas, diante do espetáculo vesperal dos cúmulos e nimbos. Em paz com a vida (Será?) ou não. Mas de certo tenho só um conselho, coma as fritas sempre que desejar, elas devem ser compradas congeladas, peça para ele ficar no carro, na parada de ônibus ou em qualquer lugar.... Vá você buscar as fritas congeladas e que devem ser fritas em casa mesmo, na sua, na dele, sei lá?! Nada, em hipótese alguma pense em comprá-las em alguma lanchonete, risco de ter mais e más opções, nada transcendentais, mas experts em normalidade e a normalidade ás vezes tem seu lado sedutor e  é a que irá levar (e parece que levou mesmo) ao contrato social positivista... Também, óbvio até, ainda não se apropriou do conhecimento necessário e o affair pelas humanas ainda é discurso... Nada contra... Respeito!!!!!! Mas "A República Platônica" e até o Manifesto Comunista, lido ontem a noite (sem precisar a data) mas, após pensamentos resgatados de um certo momento de tolices... Apresentam propostas mais interessantes, desejantes que um mero cardápio de normalidade...


Com toda a admiração...
Eu em diálogo com e na inpiração de Ferreira Gullar

Um comentário:

  1. Conheço o sintoma é amor. Tais amando um cara que ainda n percebeu vc. espera que vai chegar a hora.

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